A saga entre o campeão linear de pesos pesados do UFC, Jon Jones, e o campeão interino, Tom Aspinall, ganha novas nuances diariamente nas redes sociais, com ambos a trocar provocações. Enquanto isso, o CEO do UFC, Dana White, repete constantemente, sempre que questionado, que o combate de unificação acontecerá.
No entanto, o veterano lutador do UFC, Renato Moicano, não partilha o mesmo otimismo em relação à concretização deste confronto.
Moicano considera “absurdo” que Aspinall esteja a ser mantido inativo, forçado a esperar um tempo considerável por uma oportunidade de unificar os cinturões. Compara a situação de Jones à de Conor McGregor ao adiar o combate com Michael Chandler, notando que Jones parece estar deliberadamente à espera que Aspinall passe o seu auge físico. Embora um seja o campeão, Moicano salienta que McGregor possuía uma “excitação” (hype) e um apelo únicos que Jones, apesar do seu estatuto, não iguala.
Apesar de Moicano acreditar que Dana White genuinamente deseja realizar o combate, ele reconhece que a presença e a imagem de Jon Jones são ativos extremamente valiosos para o UFC. Manter Jones associado à organização, especialmente durante o período crítico de negociação de um novo e lucrativo acordo televisivo, confere-lhe um poder negocial considerável e torna-o difícil de forçar a uma luta indesejada.
O UFC encontra-se numa posição delicada, necessitando de figuras proeminentes como Jones e McGregor, mesmo que estes criem desafios logísticos e de gestão. Moicano argumenta que a era atual carece de estrelas globais e mainstream comparáveis às do passado, como Ronda Rousey ou Brock Lesnar. Analisa a falta de popularidade generalizada entre os atuais campeões em várias categorias, mencionando nomes como Alexandre Pantoja, Merab Dvalishvili (embora a ganhar mais projeção), Alexander Volkanovski (popular, mas envelhecendo e menos global que Max Holloway), Islam Makhachev (muito popular no mundo árabe, menos no Ocidente), Belal Muhammad e Jack Della Maddalena (recém-chegado), Dricus Du Plessis (não popular), e Magomed Ankalaev (pouco conhecido). Ele sugere que lutadores como Dustin Poirier ou Khamzat Chimaev teriam sido mais vantajosos para o UFC em termos de apelo. Dado este vazio de estrelas, Moicano sente que o UFC está, em certa medida, nas mãos de Jones e McGregor, especialmente nos pesos pesados, onde Jones é o campeão. Pessoalmente, Moicano defenderia a destituição de Jones do título para que Aspinall pudesse avançar e lutar contra outro adversário. No entanto, ele admite que as opções credíveis na divisão são limitadas, criticando, por exemplo, o nível de Cyril Gane e a inatividade de Alexander Volkov. Em suma, Moicano acredita que Jon Jones está apenas a ganhar tempo e que o combate contra Aspinall provavelmente não acontecerá, pois o risco de perder para um peso pesado da nova geração, rápido e atlético como Aspinall, não compensa para Jones.
Moicano sugere que a própria insistência na ideia do combate Jones vs. Aspinall pode ser prejudicial para a promoção. No modelo de negócio atual do UFC, especialmente sob acordos como o existente com a ESPN, a organização não está tão incentivada a abrir os cofres para *cada* potencial “super luta” individual, focando-se mais na consistência e volume de conteúdo.
Esta situação, ao criar uma grande expectativa pública em torno do combate com Aspinall, apenas concede a Jones (e a McGregor nas suas respetivas situações) uma alavancagem adicional nas negociações contratuais. Moicano reconhece o papel fundamental da máquina do UFC na criação de estrelas de dimensão massiva como McGregor, mas adverte que a organização precisa de gerir cuidadosamente o poder e a alavancagem que essas estrelas acumulam. Utiliza a metáfora do lobo: o lobo deve ser grande o suficiente para assustar os outros (concorrentes ou potenciais adversários), mas não tão grande a ponto de morder o seu próprio dono (o UFC).
Apesar destes desafios com figuras individuais, a perspetiva financeira a longo prazo do UFC é excecionalmente robusta. O crescimento das taxas cobradas por eventos “on the road” e, crucialmente, a perspetiva de um acordo televisivo/streaming ainda maior no horizonte indicam um futuro financeiro muito sólido para a organização.
Moicano sublinha que o UFC está a gerar receita de todas as formas possíveis, e a transição para um novo parceiro de transmissão após a saída da ESPN (com Netflix ou Amazon a serem mencionados) trará milhares de milhões adicionais. Ele argumenta que, com este influxo de capital, a identidade específica dos lutadores no topo torna-se menos crítica. O UFC possui um sistema altamente eficiente para identificar e promover talentos através do Contender Series, assinando lutadores com contratos iniciais mais baixos e rapidamente promovendo-os ou substituindo-os conforme os resultados. Esta “máquina” de produção de conteúdo e talentos é, na sua opinião, praticamente imbatível e significa que a organização não está excessivamente preocupada com impasses como o de Jones e Aspinall a longo prazo.
Finalmente, Moicano conclui que a alavancagem significativa que Jon Jones e Conor McGregor atualmente detêm está diretamente ligada ao período de negociação do novo acordo televisivo. O UFC necessita dos seus “números” de audiência e apelo para demonstrar valor a potenciais parceiros como a Netflix. Assim que o megacontrato for fechado, a pressão diminui. “Lixem-se [os lutadores]”, afirma Moicano, “[depois do acordo] são mais cinco anos com dinheiro no bolso, e pensaremos em tudo isso mais tarde”.